terça-feira, 14 de setembro de 2010

Gosto de Gente que se Sábe Desenhar




Gosto de gente que se sábe desenhar, ou João Silva visto por Sílvia Marques.


“Gosto de gente que se sabe desenhar… “ palavras de um pintor de início do século XX.

Apresentar o João é tarefa difícil…
Da pintura transborda uma enorme força, uma vontade de viver, de conhecer, de dar sem nada receber dos outros. Desafia-nos a questionar verdades absolutas.
Através dos olhos dele recriamos um mundo melhor, mais justo, mais livre, longe de preconceitos, mas próximo da vida. Pode não ser um mundo melhor, mas é um mundo onde há vida, onde há a eternização de vários momentos.
É difícil provocar sentimento, inquietação, dúvidas…mas ele consegue-o de forma pertinente na sua obra.
Pintor, formador, músico, poeta, pai, marido, amigo…diria, multifacetado, entregue a actividades do espírito.
Homem simples, humilde, de um humor impar, atento, sempre, aos outros. Homem de sensibilidade superior.
O que mais admiro e me fascina nos pintores é que todos têm em comum uma franca e enorme rebeldia contra os convencionalismos da sua época.
Os artistas passaram (Séc. XIX) a pintar as emoções e as sensações experimentadas em “plein air”, diante de um simples “pedaço” de natureza, só permitido devido à utilização de tubos de pintura inventados depois de 1834. Assim, deu-se uma autonomia de trabalho, isolaram-se “sur le motif” durante um dia inteiro, de preferência em Barbizon. É a Escola de Barbizon que impõem uma nova técnica, reclamando o emprego das cores primárias, a pincelada fragmentada e as sombras coloridas (a partir de 1874). Aqui reside o motor de todos os “ismos”.
Emociona-me, sobretudo, a capacidade (de alguns) em passarem para uma tela a realidade natural e sensível ou a sua realidade interna com emoção. O João passa para a tela essa realidade.
As vivências estão sempre contidas na eternização do momento ou momentos que são a obra de arte. São os períodos de crise política, social, cultural e, sobretudo, interior que marcam a obra de cada um. São eles que nos tocam, que nos deslumbram, que nos transportam para diferentes mundos. Hoje admirados, entendidos, considerados génios, outrora incompreendidos e condenados à morte. Destaco o ano de 1918 para Portugal. Dois homens morreram cedo, mas mortos já se sentiam, cumprindo-se apenas o destino. Usando as palavras de Van Gogh "La tristesse durera toujours", sentimento que dói
Considero que ensinar, tal como pintar é um acto de AMOR. Só o podia ser…
Estes homens nunca se convenceram!
O João também não…
Agosto de 2008

Sílvia Marques

1 comentário: