Gosto de gente que se sábe desenhar, ou João Silva visto por Sílvia Marques.
“Gosto de gente que se sabe desenhar… “ palavras de um pintor de início do século XX.
Apresentar o João é tarefa difícil…
Da pintura transborda uma enorme força, uma vontade de viver, de conhecer, de dar sem nada receber dos outros. Desafia-nos a questionar verdades absolutas.
Através dos olhos dele recriamos um mundo melhor, mais justo, mais livre, longe de preconceitos, mas próximo da vida. Pode não ser um mundo melhor, mas é um mundo onde há vida, onde há a eternização de vários momentos.
É difícil provocar sentimento, inquietação, dúvidas…mas ele consegue-o de forma pertinente na sua obra.
Pintor, formador, músico, poeta, pai, marido, amigo…diria, multifacetado, entregue a actividades do espírito.
Homem simples, humilde, de um humor impar, atento, sempre, aos outros. Homem de sensibilidade superior.
O que mais admiro e me fascina nos pintores é que todos têm em comum uma franca e enorme rebeldia contra os convencionalismos da sua época.
Os artistas passaram (Séc. XIX) a pintar as emoções e as sensações experimentadas em “plein air”, diante de um simples “pedaço” de natureza, só permitido devido à utilização de tubos de pintura inventados depois de 1834. Assim, deu-se uma autonomia de trabalho, isolaram-se “sur le motif” durante um dia inteiro, de preferência em Barbizon. É a Escola de Barbizon que impõem uma nova técnica, reclamando o emprego das cores primárias, a pincelada fragmentada e as sombras coloridas (a partir de 1874). Aqui reside o motor de todos os “ismos”.
Emociona-me, sobretudo, a capacidade (de alguns) em passarem para uma tela a realidade natural e sensível ou a sua realidade interna com emoção. O João passa para a tela essa realidade.
As vivências estão sempre contidas na eternização do momento ou momentos que são a obra de arte. São os períodos de crise política, social, cultural e, sobretudo, interior que marcam a obra de cada um. São eles que nos tocam, que nos deslumbram, que nos transportam para diferentes mundos. Hoje admirados, entendidos, considerados génios, outrora incompreendidos e condenados à morte. Destaco o ano de 1918 para Portugal. Dois homens morreram cedo, mas mortos já se sentiam, cumprindo-se apenas o destino. Usando as palavras de Van Gogh "La tristesse durera toujours", sentimento que dói
Considero que ensinar, tal como pintar é um acto de AMOR. Só o podia ser…
Estes homens nunca se convenceram!
O João também não…
Agosto de 2008
Sílvia Marques
Continuo a concordar com tudo o que disse...e penso.
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