terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Ser Não Está - Pintura 2005

Acrílico sobre tela 1,30x1.00

Trabalhamos geralmente para ter; para ter mais dinheiro, para ter mais conforto, para ter mais importância social... Porém, de acordo com o ponto de vista de Agostinho da Silva, é fundamental inverter esse sentido da vida e trabalhar, sobretudo, para Ser, para ser mais apto, para ser mais consciente, para ser melhor. De acordo com este ponto de vista, até as tarefas mais monótonas e fastidiosas se podem expressar de forma criativa:«Conta-se que um viajante se aproximou de um grupo de canteiros, integrados na construção de uma catedral. Então perguntou ao primeiro:- Que estás a fazer?- Como vês - respondeu - estou aqui a suar, trabalhando como um idiota, à espera que chegue a hora de ir para casa.- E tu, que fazes? - perguntou ao segundo canteiro.- Eu estou a ganhar o meu pão e o dos meus filhos.- E tu, que estás a fazer? - perguntou ao terceiro.- Eu estou a construir uma catedral.»
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Assim, enquanto o primeiro canteiro trabalhava unicamente para ter, o segundo, apesar de ter um objectivo semelhante, assumia já uma atitude mais digna, atribuindo ao seu trabalho um sentido de serviço prestado aos familiares. Mas é o terceiro que coloca ênfase no Ser, ao considerar que estava a trabalhar com um objectivo superior: construir uma catedral.

Gosto de Gente que se Sábe Desenhar




Gosto de gente que se sábe desenhar, ou João Silva visto por Sílvia Marques.


“Gosto de gente que se sabe desenhar… “ palavras de um pintor de início do século XX.

Apresentar o João é tarefa difícil…
Da pintura transborda uma enorme força, uma vontade de viver, de conhecer, de dar sem nada receber dos outros. Desafia-nos a questionar verdades absolutas.
Através dos olhos dele recriamos um mundo melhor, mais justo, mais livre, longe de preconceitos, mas próximo da vida. Pode não ser um mundo melhor, mas é um mundo onde há vida, onde há a eternização de vários momentos.
É difícil provocar sentimento, inquietação, dúvidas…mas ele consegue-o de forma pertinente na sua obra.
Pintor, formador, músico, poeta, pai, marido, amigo…diria, multifacetado, entregue a actividades do espírito.
Homem simples, humilde, de um humor impar, atento, sempre, aos outros. Homem de sensibilidade superior.
O que mais admiro e me fascina nos pintores é que todos têm em comum uma franca e enorme rebeldia contra os convencionalismos da sua época.
Os artistas passaram (Séc. XIX) a pintar as emoções e as sensações experimentadas em “plein air”, diante de um simples “pedaço” de natureza, só permitido devido à utilização de tubos de pintura inventados depois de 1834. Assim, deu-se uma autonomia de trabalho, isolaram-se “sur le motif” durante um dia inteiro, de preferência em Barbizon. É a Escola de Barbizon que impõem uma nova técnica, reclamando o emprego das cores primárias, a pincelada fragmentada e as sombras coloridas (a partir de 1874). Aqui reside o motor de todos os “ismos”.
Emociona-me, sobretudo, a capacidade (de alguns) em passarem para uma tela a realidade natural e sensível ou a sua realidade interna com emoção. O João passa para a tela essa realidade.
As vivências estão sempre contidas na eternização do momento ou momentos que são a obra de arte. São os períodos de crise política, social, cultural e, sobretudo, interior que marcam a obra de cada um. São eles que nos tocam, que nos deslumbram, que nos transportam para diferentes mundos. Hoje admirados, entendidos, considerados génios, outrora incompreendidos e condenados à morte. Destaco o ano de 1918 para Portugal. Dois homens morreram cedo, mas mortos já se sentiam, cumprindo-se apenas o destino. Usando as palavras de Van Gogh "La tristesse durera toujours", sentimento que dói
Considero que ensinar, tal como pintar é um acto de AMOR. Só o podia ser…
Estes homens nunca se convenceram!
O João também não…
Agosto de 2008

Sílvia Marques

O Descanso dos Guerreiros


Foto João Silva - 2009

Dança do Ventre - Pintura 2003

Acrílico sobre madeira 1,00x1,00

Lágrimas de Portugal - Pintura de 2009

Acrilico sobre tela 0.90x0.90


Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Relicários do Tempo ou a poesia de Kalidasa






Relicários do Tempo são o conjunto de 8 pequenas esculturas (2 nas fotos) que estou a preparar para a minha próxima exposição “ Será o homem a mais bela criação de Deus? “
A ideia de lhe chamar Relicário do Tempo foi baseado na poesia, Saudação à Alvorada do poeta e dramaturgo hindu Kalidasa, e na ideia de um relicário ser um objecto que se destina a guardar relíquias sejam elas de caris religioso ou não.
Um alerta para os momentos e diversas fases da vida de todos nós, que passam à velocidade do tempo, e que distraídos nos esquecemos de viver o precioso momento.





Cuida deste dia
Ele é a vida, a própria essência da vida!
Em seu breve curso
Estão todas as verdades e realidades da tua existência:
A bênção do crescimento,
A glória da acção,
O esplendor da realização.
Pois o dia de ontem não foi senão um sonho
E o de amanhã somente uma visão.
Mas o dia de hoje bem vivido, transforma os de ontem num sonho de ventura.
E os de amanhã numa visão de esperança.
Cuida bem, pois, do dia de hoje!




Kalidasa

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Sagrado e o Profano


Estes trinta e dois trabalhos de colagem, pintura e desenho de pequenas dimensões da série " O Sagrado e o Profano",vão ser apresentados na próxima exposição “ Será o homem a mais bela criação de Deus?”.
O evento feito em parceria com o pintor Muno Quaresma vai decorrer no próximo mês de Abril no Centro Cultural da Mala Posta.
Aqui vos deixo em excerto do texto de apresentação.

"Numa época marcada por uma crise de valores, identidades - individuais e colectivas - por maniqueísmos fabricados – Eixo do Mal, Fiéis, Infiéis – mas também por um novo optimismo – “Yes we can” – na construção de um novo modelo alicerçado nas cinzas do Liberalismo Financeiro; equipámo-nos para empreender uma viagem plástica consagrada ao Homem e ao seu Mundo.Será o Homem a mais bela criação de Deus?Num esforço de resposta pintámos o Homem nas suas múltiplas dimensões: espiritual, intelectual, afectiva… energética, física, mágica.Debruçámo-nos sobre o Belo… e descobrimos nesta senda a armadilha da própria procura: afinal o que é o Belo?Relacionámos criação com c minúsculo com a Criação com C maiúsculo, e procurámos entrar em comunhão com o Demiurgo…… mas também em oposição, em relativização, em admiração e redenção.O resultado é um espólio conjunto brevemente disponível no endereço : "
: http://www.seraohomemamaisbelacriacaodedeus.blogspot.com/

Shelock Holmes - Quatro Historias Inventadas.



Quatro historiais inventadas para o maior detective do mundo. Quatro pinturas de homenagem a Sherlock Holmes que vão estar expostas no mês de Outubro na galeria dos Recreios Artísticos da Amadora, integradas na exposição "Palcos".

- As três bolas vermelhas
- A tesoura suspensa
- A faca sem corte
- O martelo mandrião

Os trabalhos foram tomando forma ao sabor do destino ficando para sempre o enigma.
Quem nasceu primeiro, os títulos ou a pintura.
Esta coisa dos títulos fazem-me sempre lembra uma pequena historia de um escritor russo contada pelo Lobo Antunes , que dizia:

- A orquestra atacou o hino, pelo que este se aguentou bem.

Ou o artista toma conta da obra. Ou a obra toma conta de nós.

Eu prefiro a segunda.